30/09/2005

Dizem que hoje vai estar um dia de Verão...

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Se eu estivesse aqui, a esta hora já tinha ido dar um salto à praia e, ao fim da tarde, desceria pela falésia até ao barzito da Coelha, assim para me despedir de Setembro.

Em primeiro plano: Palmitos (Chamaerops humilis) na Praia dos Três Penecos de manhãzinha, e de tarde, na falésia sobre a Coelha (Sesmarias, concelho de Albufeira)
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Claro que se a minha escola fosse como a da P. não precisava de fazer grandes excursões. A sua escolinha é mesmo sobre a falésia, lá para o Barlavento, na Salema. Os meninos e meninas, atrás da porta, para além dos bonézitos do sol, penduram também as toalhas. (Lá "aulas de campo" não é uma expressão vazia de sentido! Como tenho pensado nela! Aposto que nesta altura deve estar a encantar os miúdos com histórias do sistema solar por causa do ecli pse! ;-)
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29/09/2005

"A árvore que eu prefiro é uma cerejeira..."

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A propósito desta velha cerejeira decerto com uma história privada recheada de recordações, lembrei-me desta redacçãozita*:
«A árvore que eu prefiro é uma cerejeira.
A minha cerejeira foi plantada no meu quintal no ano de 1961 pelo meu avô. É uma árvore muito grande e se for ao topo vejo o monte de S. Félix.
Quando está toda coberta de folhas e flores parece um jardim verde e branco.
No Verão, quando está muito calor eu ponho-me à sua sombra. Nessa altura ela dá muitas cerejas que eu aprecio muito.
Claro que eu gosto de todas as árvores mas prefiro a cerejeira porque dá o meu fruto preferido. E esta foi plantada pelo meu avô.»

Jorge Filipe B.T. 5º ano (1995-96)

*Todos os anos peço aos meus pequenos alunos que redijam um texto subordinado ao tema "A minha árvore preferida...". E explico muito bem que deverão falar de uma árvore em particular. Não das laranjeiras em geral, ou dos pinheiros, etc., mas daquela em particular que vêem todos os dias, e que está no quintal, no jardim, na rua por onde passam.
Aspecto importante deste pequeno "projecto" é a descoberta da história "privada" dessa árvore. Muitas vezes ao descobrirem essa história, ao saberem que, por exemplo, foi plantada pelo avô, pelo pai, por vezes até em datas especiais, as crianças estreitam os laços que pela árvore já sentiam, mesmo sem disso se aperceberem.
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Velha cerejeira

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Velha cerejeira na Quinta da Vista Alegre, em Barqueiros (Mesão Frio)

«Cerejeira com pelo menos sessenta anos (...) que está mesmo a terminar a sua longa vida, pois o tronco adoeceu e abriu e já teve de lhe ser cortado um dos seus mais fortes braços.»
Enviado por Francisco Oliveira
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28/09/2005

Faia tricolor



Fotos: pva 0505

Este cultivar muito gracioso da faia europeia tem folhas de cor púrpura com margens cor-de-rosa debruadas por uma penugem branca. De crescimento lento, difere do comum da sua espécie (Fagus sylvatica) pelo menor porte e pelos ramos nitidamente ascendentes. O exemplar das fotos é jovem e mora nos jardins do Palácio de Cristal, à direita da entrada principal. Podem ver-se em alguns ramos uns saquinhos com terra que cobrem incisões na casca; delas espera o jardineiro que brotem raízes para que tais ramos formem clones da planta. Sendo a Fagus sylvatica «Roseomarginata» estéril, estes alporques são o modo mais eficaz de a multiplicar.

27/09/2005

Árvores do Jardim do Carregal #10


Foto: pva 0509 - plátano no Jardim do Carregal, Porto

Entre as árvores não transplantadas do Jardim do Carregal, é difícil não ver este soberbo plátano, que estende o toldo generoso da sua copa sobre a rua Clemente Menéres. É por ter árvores deste porte que o jardim, agora renovado e reaberto ao público depois de seis anos de interdição (total ou parcial), passou rapidamente a ser local de recreio de crianças e parte do percurso diário de muita gente. Alguns visitam o jardim pela primeira vez; outros retomam o convívio interrompido; mas a todos eles o jardim fornece o aconchego só possível com árvores como estas, carregadas de anos.

Um jardim constrói-se para o futuro. Hoje o coberto arbóreo dos históricos jardins públicos do Porto - os que foram poupados à delapidação - atinge um apogeu de que os seus autores não puderam usufruir. É imperdoável que as várias entidades que têm intervido na cidade (Câmara, Porto 2001, Metro) desbaratem essa preciosa herança. Oxalá a recuperação do Jardim do Carregal seja indicadora de uma bem necessária mudança de atitude.

Anteriores na mesma série: #1, #2, #3, #4, #5, #6, #7, #8, #9

26/09/2005

Avenida dos Aliados


Avenida dos Aliados- 23 de Setembro de 2005
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Muita gente pensa, por ouvir dizer, que a Avenida dos Aliados já está totalmente destruída e que o processo é, eventualmente, irreversível! Incorrecto!
Para já "apenas" arrasaram* completamente a maior zona ajardinada (perfeitamente visível nesta e nesta fotografias) e que estava já entaipada há anos por causa da construção da estação do Metro- entre a Praça de Humberto Delgado e a zona ajardinada das estátuas.
É só para lembrar.
(Ler aqui o que alguns candidatos à Câmara Municipal do Porto dizem sobre o projecto de "requalificação" deste local emblemático da cidade.)
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25/09/2005

Poema com rosas


Foto: pva 0505

Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.

Eugénio de Andrade, Poema para o meu amor doente (in As mãos e os frutos, 1948)

24/09/2005

Dos Jornais

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Música alegra Pasteleira e Parque da Cidade
Ha muitas maneiras de atrair as pessoas aos jardins e aos parques, sendo evidentemente a música uma delas. Caso o evento esteja bem anunciado, quero imaginar que pelo menos algumas pessoas dos bairros circundantes sentirão vontade de se deslocar à aprazível, mas tão pouco aproveitada Mata da Pasteleira. Entre as suas cerca de mil árvores (de que aqui já publicámos fotos) encontram-se alguns belos exemplares de pinheiros bravos ou marítimos (Pinus pinaster).

Mais notícias relacionadas com espaços verdes:
Sete jardins novos à porta de casa (Porto)
Ler a propósito destes "jardins de proximidade" esta observaçãopublicada n'A Baixa do Porto.

Quinta da Gruta -Novo espaço de lazer e aprendizagem em Santa Maria de Avioso (Maia)
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23/09/2005

Carpa-europeia


Fotos: pva - Carpinus betulus nos jardins do Palácio de Cristal

A Carpinus betulus, de que ontem mostrámos a semente, é, como indica o seu nome vulgar, de origem europeia, pertencendo, tal como as bétulas, as avelaneiras e os amieiros, à família das betuláceas. As folhas com as margens serradas fazem lembrar as das bétulas, mas, pela sua forma oval e venação, assemelham-se mais às das faias. Também o tronco, de ritidoma claro e pardacento, se poderia confundir com o das faias, não fosse apresentar-se retorcido e sulcado, como uma escultura em bruto.

Ensinam os livros que a copa da carpa-europeia pode atingir grandes dimensões, com mais de trinta metros de diâmetro, mas os exemplares do Palácio de Cristal ainda não fazem jus a essa fama. No Jardim Botânico do Porto, existe um exemplar avantajado que cobre de sombra uma vasta área sujeita ao constante atroar da VCI. Mas foi nos Kew Gardens, em Londres, que me pude abrigar debaixo de uma destas árvores como quem entra numa tenda.

Em suma, uma bonita árvore que precisa de espaço para crescer e que, se fosse mais usada entre nós, traria maior diversidade a uma arborização pública tão propensa à monotonia.

22/09/2005

Há um ano (mais dia, menos dia)

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Chegou o Outono
Outono
Outono Feliz
Nozes no Dia de S. Mateus

Este ano, segundo o Observatório (uma publicação do Observatório astronómico de Lisboa), o Equinócio de Outono ocorreu ontem, 21 de Setembro, às 23h23m.
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Recomeço




Fotos: pva 0509 - frutos de Acer pseudoplatanus, Acer campestre,Tilia tomentosa e Carpinus
betulus
(colhidos nos jardins do Palácio de Cristal, Porto)


O fim do Verão é inevitavelmente época de exibições: de bronzeados com etiqueta de praias exóticas, de rostos corados fruto de já saudosos repousos, de fotografias acaloradas por risinhos em ambiente de festa, de postais de lugares que parecem inacessíveis em outras épocas do ano, de comprovantes de viagem em formato de pequeninos presentes trazidos em malas com pouca folga. Entretanto, por cá, algumas árvores afadigaram-se em preparar a sua primeira exibição do Outono: veículos aéreos arrojados para levar longe as suas sementes recém-nascidas. Estes meios de transporte começam por ser de tom verde e textura encorpada, ainda incapazes de planar, e só levantam voo quando secos, leves e ágeis.

A viatura espacial para transporte de sementes mais frequente na cidade, pela grande percentagem de áceres em lugares públicos, é a sâmara. Com duas asas quase transparentes, que formam um ângulo variável (180º no Acer campestre, próximo de 0º no Acer pseudoplatanus) e suportam duas sementes ao centro, esta estrutura oscila como uma borboleta e espalha-se facilmente. Não tardará que muitos rebentos de ácer arrebitem cabeça em jardins e beiradas.

As tílias adoptaram também um transportador inusitado: uma pala em cuja face anterior se segura um pézinho de sementes de pedúnculo longo como o das cerejas. Lembra um avião de longo curso que acaba de deixar a pista do aeroporto. O equilíbrio de pesos, com a frente da pala levantada para manter o conjunto de pé, é espectáculo a não perder.

Mas foi a opção das carpas (Carpinus betulus) que mais nos surpreendeu: uma asa-delta que leva uma semente aninhada no dorso e rodopia freneticamente até atingir o solo, aproveitando o movimento para se afastar da árvore-mãe. Houvesse um prémio para a criatividade, eficiência e elegância, e estaria atribuído.

21/09/2005

Notícia - Público, hoje

Vamos salvar o jardim. Famalicenses não trocam uma flor por um mural.

Esta é a mensagem que encabeça uma acção de protesto contra a construção, no jardim da Câmara de Vila Nova de Famalicão, de um mural que pretende comemorar os 170 anos da criação do concelho e os 800 do foral. Com dez metros de comprimento e três de altura, o mural vai custar 250 mil euros. Na origem dos protestos, para além do local, está também o conteúdo do mural. A obra terá os nomes dos «quarenta e nove valorosos presidentes de junta de freguesia que, em 2005, dão o rosto à acção intrépida e valorosa» dos eleitos locais, bem como dos «responsáveis pelo actual executivo» e dos sete famalicenses que integravam a comissão administrativa que fundou o concelho.

Em vez dos nomes, os promotores do protesto defendem a inclusão do texto do foral em linguagem moderna; e querem que a escultura seja colocada fora do jardim dos paços do concelho. «Se o monumento estivesse num local retirado, era apenas ridículo. Assim, agride o património.»

A árvore que enganou o D.....

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Prunus amygdalus ao entardecer
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«A amendoeira é a árvore que enganou o Diabo. O Diabo como a viu florescer em Janeiro, sentou-se debaixo dela, à espera que lhe amadurecessem os frutos, para depois ir guardar as outras árvores.
Esteve até Setembro à espera do fruto, pois é neste mês que a amendoeira o dá. Como nesse mês não estivessem maduras ainda as amêndoas, cansado de esperar foi espreitar as outras árvores. Estas, porém, já estavam apanhadas e o Diabo todo desapontado voltou para debaixo da amendoeira, mas neste meio tempo tinham-lhe apanhado também as amêndoas e o Diabo ficou logrado (Lisboa).»
Consiglieri Pedroso , Contribuições para uma mitologia popular portuguesa e outros escritos etnográficos ( pref., org. e notas de João Leal. - Lisboa : Dom Quixote, 1988)
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Despedida do Verão

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Amendoeira e pôr-do-sol nas Sesmarias (Algarve-2005)

A luz amadurece as
pedras e os figos nos lados dos caminhos
adoça as alfarrobas fende a casca
das amêndoas e desprende-as
varejamos
as que ficam presas de leve
aos ramos;
no armazém da casa amontoadas
descascascar as
amêndoas o verão.

Gastão Cruz "Algarve" (in Rua de Portugal, Asssírio e Alvim, Lisboa 2002)

20/09/2005

Revista de Blogues

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O Adeus Às Árvores (no Dolo Eventual)
Desapareceu de sua rua (no agrafo ponto net [blog: terra habitada])
O meu sobreiro
A minha olaia

E saudamos o novíssimo Vulgar de Lineu (de JB)
( se não gostarem de ser "linkados"... por favor é só dizerem e as nossas desculpas antecipadas: eu sei que as visitas se pagam;-)
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Menino ou menina?


Fotos: pva 0509 - Encephalartos lebomboensis - Palácio de Cristal (Porto)

Um dos Encephalartos do Palácio de Cristal exibe agora dois belíssimos cones que, quando menores, lembravam dois dentinhos de leite. Uma prenda de Verão que deve ajudar a desvendá-lo: saberemos em breve se é um exemplar feminino ou masculino. Aceitam-se apostas.

19/09/2005

ALIADOS- actualização

Camellia sasanqua nos Jardins do Paço dos Bispos

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Camellia sasanqua nos Jardins do Paço dos Bispos (Jardim do Antigo Paço Episcopal) emViseu-0509

No ano passado, em Setembro, no final de um interessantíssimo "Percurso Botânico" no Parque do Fontelo, deparámos com esta magnífica "Sazanka" em flor no Jardim do Antigo Paço Episcopal, recentemente recuperado. Localizado junto à Mata Municipal do Fontelo, em Viseu, este edifício foi mandado construir pelo bispo D. Miguel da Silva, no século XVI e acolhe actualmente o Solar do Vinho do Dão.
Este Percurso Botânico é uma iniciativa da responsabilidade de docentes da Escola Superior Agrária de Viseu e repetiu-se este ano, sendo uma actividade integrada no programa Ciência Viva no Verão.

(No próximo sábado a visita será ao Parque Botânico de Vila Nova de Paiva: "Arbutus do Demo - Um parque botânico com vista para Marte"; a coisa promete ;-)
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18/09/2005

Inauguração do Centro Cultural Vila Flor



Fotos: pva 0508 - camélias em Vila Flor, Guimarães, sete semanas antes da inauguração do Centro

Foi este fim-de-semana inaugurado em Guimarães o Centro Cultural Vila Flor, que ocupa o antigo Palácio do mesmo nome, inteiramente recuperado pela Câmara vimaranense para as suas novas funções. Há ainda a registar uma outra boa notícia: o histórico jardim do Palácio, até há pouco usado como horto municipal, foi também objecto de reabilitação e passa a estar aberto ao público. O jardim desenvolve-se em sucessivos terraços, ligados por formosa escadaria e rodeados por uma balaustrada de granito pontuada por colunetas com motivos escultóricos. Para nós o que ele contém de mais valioso é a colecção de grandes japoneiras simetricamente dispostas nos canteiros desenhados a buxo: pela harmonia, homogeneidade e grandeza do conjunto, esta colecção tem poucas rivais no nosso país. Por isso nos surpreende que, nas vários referências aos jardins do Palácio Vila Flor (em livros, guias turísticos, páginas electrónicas, etc.), nunca se assinalem estas notáveis árvores.

17/09/2005

"O Medronho e a Medronheira"

A propósito da "Árvore dos morangos"
«Contado por Maria isabel e seu filho
Em Setembro, Outubro, conforme o amadurecimento dele, começa-se a apanhar o medronho.
A gente, na serra, chama "madronho" à fruta e à aguardente chama-se "madronhêra" ou só aguardente, que não temos outra... lá para baixo , para "o Algarve" sim, fazem de figo e a "bagacinha", que é da uva. Não quero pôr "petafes", mas não se gosta dessas aguardentes. Não têm mesmo comparação nenhuma...
Então, dizem que bebem um copo de medronho e a gente a gente ri-se desse dito, porque o medronho come-se não se bebe. Pois não será verdade?
A apanha é muito "constosa", esfarrapa a roupa toda porque o medronheiro é coisa bravia, não nasce assim num pomar disposto em canteiros. Nasce e cresce pelos barrancos, pelos cerros mais altos e rodeado de matos e silvas. É um trabalho levado do diacho e também é preciso acartá-lo para as adegas que saõ essas casinhas pequenas que se vêem espalhadas pela serra fora, afastadas dos "montes", nos sítios que ficam mais perto da maior fartura de medronheiros. (...) »
In Um Algarve Outro -contado de boca em boca (estórias, ditos, mezinhas, adivinhas e o mais...) , de Glória Marreiros (Livros Horizonte, 1991), p. 225
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Árvore dos morangos

Este é um arbusto que se sabe enfeitar: no Outono cobre-se de cachos de flores brancas, pequeninos tubos mais estreitos na ponta, e ao mesmo tempo alinda-se com os frutos vermelhos, já maduros, do ano anterior. Estes têm polpa agridoce e textura de morango (que sugere o nome inglês, strawberry tree), com pequenas protuberâncias na casca.


Foto: pva 0411

Espontâneo nas Serras de Monchique, Espinhaço e Cão, o medronheiro (Arbutus unedo) é uma ericácea essencial à economia de muitas gentes nas serranias do Algarve que conseguiram, com boa mão, paladar exigente e um prático "pesa-espíritos" (que indica a graduação alcoólica da bebida), dar fama à sua aguardente de medronho (conhecida em francês como l' eau-de-vie d'arbouse). Uma boa aguardente de medronho é transparente, com aroma e gosto da fruta, e 50º de teor alcoólico. Tal percentagem de álcool é naturalmente fonte de preocupações, e não apenas entre personagens da literatura:

A vida íntima é cheia de passagens ridículas. A gente, que escreve casos tristes, se lhes não joeirasse a parte cómica, não arranjava nunca uma tragédia. Estava ali naquela desgraçada mulher sobre as brasas do seu suplício, e à volta dela a bruta vida de seus pais - ele a esconder o pipo da aguardente de medronho, a mãe a pisar a erva semprónia, e a pedir sinceramente ao céu que lhe levasse o marido em uma das suas frequentes borracheiras.
[Camilo Castelo Branco, Maria Moisés (in Novelas do Minho), 1876]

O regionalismo ervado, que designa o medronheiro nestas serras, deriva de erbatus, e esta palavra de arbutus. Unedo significa "só como um", porque o fruto é alegadamente demasiado insípido para ser apreciado em quantidade. O género Arbutus abriga cerca de 12 espécies endémicas na América do Norte, Ásia e Europa, sendo o A. unedo mais frequente na faixa oeste da costa mediterrânica.

16/09/2005

As "sazankas" já estão a florir!

É só para lembrar. Vimo-las ontem nos jardins da Casa Burmester (ex- FLUP e ex FPUP) .
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Há duas Camellia sasanqua logo à entrada, uma de cada lado do caminho e o chão está cheiinho de sementes, pequeninas, que as pessoas esmagam à passagem; mais adiante ao lado esquerdo do casarão, há outra com belíssimas flores rosa de perfume discreto, inconfundível.

Notícia da camélia florida
Debaixo da "sazanka" florida

Pinhoada

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Regresso às aulas (se ao menos não tivesse já comido o barquinho...)
Any way, bom regresso às aulas!

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Como já aqui se escreveu, à semente do pinheiro bravo chama-se penisco, sendo a do pinheiro manso vulgarmente conhecida por pinhão. Este último entra na confecção de doçaria tradicional, como as pinhoadas, que para além dos pinhões, levam açúcar e mel.

15/09/2005

"Humains au repos"

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Parc Montsouris , um dos 17 maiores parques parisienses.
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"Pelouse au repos"

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Em Portugal vêem-se letreiros mais do género "não pisar", "não jogar à bola" etc. , mas em Paris (e desculpem-me o provincianismo de estar sempre a falar desta minha recente visita) é frequente encontrar este letreiro anunciando que a relva se encontra a repousar.
O que faz com que as pessoas escolham outros canteiros para se estenderem, sentarem, brincarem, lerem e respeitem o repouso da relva.
Mas esta utilização dos espaços relvados é possível porque na grande maioria dos parques e jardins, nomeadamente os de "proximidade" -que lá se chamam "squares" (espantoso os franceses, tão ciosos do seu idioma, ao ponto de já terem interiorizado palavrões como "toile" e "numérique", continuarem a utilizar este anglicismo para designar os seus "jardins de quartier"!), os cães, "mesmo com trela" não podem entrar!
Não me perguntem como fazem os donos e os pobres canídeos, mas que as ruas não estão sujas como cá, onde os animais podem usar todos os canteiros e relvados mais os passeios, não estão.

Quanto à água que se gasta com estes maravilhosos relvados isso é outra questão.
(Bem, tudo isto a propósito da troca de comentários aqui).
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14/09/2005

Reabertura do Jardim do Carregal

Alvo de um bem sucedido projecto de recuperação, o Jardim do Carregal foi ontem reaberto ao público, conforme dá conta a desenvolvida reportagem publicada na página da Câmara. Na véspera, enviei por email ao vereador do Ambiente algumas sugestões que ajudariam a tornar o jardim ainda melhor. Transcrevo na íntegra essa carta, com a promessa de divulgar aqui a resposta se ela for pertinente:

«Caro Eng. Rui Sá:

Como morador que sou da zona do Carregal, tenho acompanhado com entusiasmo a recuperação do jardim. Foram seis anos de maus tratos de que finalmente a Câmara se começa a redimir. Esperemos que não tardem também recuperações condignas do Campo 24 de Agosto e do Jardim do Marquês.

No que toca ao Jardim do Carregal, tenho a assinalar coisas boas e outras menos boas - mas que ainda se podem corrigir parcialmente.

Coisas boas:

- a demolição da casa, que além de feia era um corpo estranho no jardim e não permitia a reconstituição do percurso à volta do lago;

- a presença de canteiros floridos;

- o respeito pelo desenho original do jardim;

- os caminhos pavimentados com uma cobertura permeável;

- a vegetação variada em volta do lago.

Coisas menos boas:

- as zonas que ficam só com relva e sem qualquer sebe ou outra protecção (convite óbvio ao uso como sanitário pelos muitos cães da zona);

- os bancos de granito sem encosto (parece estar em curso no Porto uma conspiração, iniciada na Cordoaria, para impedir que os cidadãos possam descansar confortavelmente nos jardins públicos).

É claro que a primeira objecção ainda pode ser sanada. Não entendo, por exemplo, que no local deixado vago pela demolição da casa não se tenha plantado sequer um arbusto. Plantem-se camélias (esse símbolo da cidade vergonhosamente proscrito da Cordoaria), magnólias, azereiros, medronheiros: pequenos arbustos que não criem uma barreira visual mas dêm mais cor e vida ao jardim, e compensem em parte as árvores que ele perdeu durante as obras.

Saudações cordiais,
Paulo Ventura Araújo»

13/09/2005

A linguagem dos postais


Postais do Porto antigo: avenida das tílias no Palácio de Cristal; Cordoaria e largo da cadeia da Relação

«Tudo isto se me desatou por causa de uma interessante série de reproduções de postais antigos de Lisboa (...). Muitos deles apresentam vistas de jardins e, entre estes, deparei com um que diz mais sobre o que era a cidade cosmopolita do início do século XX, do que muitos discursos sobre a decadência da capital. Reproduz (em coloração manual muito cuidada) um aspecto particularmente sugestivo do Jardim de S. Pedro de Alcântara, o verdadeiro, o que está fechado há muitos anos e se situa no plano mesmo abaixo do varandim de onde se avista a cidade inteira. A vegetação é luxuriante, o arranjo impecável. O que mais me chamou a atenção é um letreiro que diz: "Fornecem-se utensílios de jardinagem para recreio das crianças". O que é que este postal nos diz? Confirma-nos que, no meio século que vai da criação do Jardim da Estrela, inaugurado em 1852, até à implantação da República, Lisboa se enche de jardins públicos, que correspondem à inspiração do square, que se desenvolvera em Inglaterra e em França a partir do início do século XIX. Basta uma visita despreocupada ao magnífico Jardim do Príncipe Real (que é de 1869), para compreender como a concepção do jardim responde directamente a uma nova ideia de funções sociais caracteristicamente urbanas, que incluem o convívio, o lazer, a aprendizagem. O que é curioso, neste letreiro de S. Pedro de Alcântara, é que se pretende ensinar às crianças, não que o campo também existe, mas que há uma actividade tipicamente urbana (a jardinagem, o gardening) que faz parte da educação do urbanita do século XIX.

É este didactismo, que no caso de jardins temáticos, como o Botânico, é levado às suas últimas e mais exuberantes consequências, que permite ler os jardins de Lisboa (e todos os que podemos nomear de cor foram lançados, mais ano menos ano, entre as balizas temporais que dei acima) como formas de acrescentar em urbanidade à vivência e ao imaginário dos cidadãos. O jardim era um elemento estruturante da praça e esta, por sua vez, um elemento marcante do ritmo e das formas de desenvolvimento urbano. Os jardins que apareceram em Lisboa nos últimos cinquenta anos, pelo contrário, cumprem a função, digamos, paliativa de ocupar o espaço entre os edifícios construídos, mais do que a de contribuir para um discurso estruturado da cidade no seu crescimento. A função (meritória que seja) das actuais quintas pedagógicas visa suprir uma pretensa falta de ruralidade que, em alguns casos (os das crianças de ascendência imemorialmente urbana), só pode ser apreendida como uma espécie de exotismo.

Porque é que jardins como os dos postais já não existem (há excepções, raríssimas) na filosofia de desenvolvimento urbanístico dos nossos tempos? Provavelmente, porque uma leitura apressada do conceito de metrópole os substituiu pelos extensos parques urbanos, cuja função nem de longe tem que ver com a do jardim público. Na verdade, se nos dermos ao trabalho de percorrer as colecções de postais turísticos que hoje se editam em Lisboa talvez não encontremos nem um que nos mostre os jardins da cidade.»

António Mega Ferreira
in Visão, Dezembro de 2004

12/09/2005

"Não há sábado sem sol, domingo sem missa, segunda sem ..."

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« Estátua conhecida por "A Preguiça". Constitui (...) o verdadeiro Ex-Libris do Palácio. Encontra-se no Jardim.»
in Monografia de Estói (1ª ediçao de 1914) por Francisco Xavier de Ataíde Oliveira , Algarve em Foco Editora
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O Palácio de Estói pode «ser considerado dos melhores testemunhos da arquitectura civil da segunda metade do século XVIII em Portugal, apesar de apresentar algumas remodelações dos finais de oitocentos. » (Francisco Lameira)
Juntamente com a Quinta de Vale Abraão (Douro), o Forte de S. Sebastião (Angra do Heroísmo), o Forte de Peniche, o Convento da Graça (Tavira), o Santuário do Cabo Espichel, o Convento de Santa Clara (Vila do Conde) e o antigo sanatório dos ferroviários, na Covilhã, este palácio faz parte do conjunto de oito edifícios classificados de interesse histórico que se prevê serem recuperados e transformados em pousadas nacionais.
Pelo menos era o que aqui se noticiava já em Maio de 2001. Neste Verão, os trabalhos de recuperação ainda não tinham sido iniciados mas uma grande placa anunciava: "Futura Pousada de Estói (Faro)". Esperamos que no projecto de recuperação, haja a sageza de se preservarem os espécimes botânicos mais interessantes, nomeadamente uns notáveis conjuntos de palmeiras centenárias e de cicas (Cycas spp).
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11/09/2005

Mais árvores, menos sombras (cont.)

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A propósito de um comentário meu ao texto "Mais árvores, menos sombras" (In Público, Local Porto-05.09.05) , a jornalista Andrea Cunha Freitas teve a gentileza de enviar um elucidativo mail com as informações (transcritas mais abaixo) que não foram então publicadas pelas razões que a seguir explica :
Sobre as árvores classificadas (e também sobre o trabalho de inventariação e diagnóstico desenvolvido pela equipa da Universidade de Trás-os-Montes) fiz um pequeno texto separado.
A questão do espaço nas páginas de um jornal é um factor a ter em conta quando se depara com assuntos tão vastos com "as árvores no Porto". Um assunto que, como sabe, pode encher de histórias as páginas de um livro inteiro. É impossível dizer tudo.


«O BI e a protecção legal
Nos últimos tempos as árvores têm merecido especial atenção quer com a atribuição de um Bilhete de Identidade, pessoal e intransmissível, quer com a recente classificação de mais de 240 exemplares.
Em 2004 a equipa de especialistas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) concluiu o diagnóstico e inventariação do arvoredo nos espaços públicos do Porto. Hoje, excluindo grandes parques municipais da cidade, as cerca de 30 mil árvores que existem nos espaços públicos têm um bilhete de identidade que permite não só saber a sua história e características como planear o seu futuro com eventuais intervenções.
Segundo a actual coordenadora deste trabalho, Isabel Lufinha, se somarmos a este número as árvores existentes nos grandes parques (Parque da Cidade, de S. Roque, da Quinta do Covelo, etc.) o número de árvores no Porto ultrapassará seguramente os 60 mil exemplares.
A base de dados, apoiada num Sistema de Informação Geográfica, tornou-se uma ferramenta precisa na gestão do património vivo e o trabalho desenvolvido nos últimos anos foi, em Julho, alvo de uma candidatura ao Concurso de Boas Práticas de Modernização Autárquica. Por outro lado, no início do ano, o número de exemplares classificados e protegidos por lei aumentou de 4 para 242, numa iniciativa proposta e promovida pela associação ambientalista Campo Aberto.

O perfil do parque arbóreo:
30 mil exemplares
164 espécies arbóreas
78 géneros
64 por cento de folhosas ornamentais
20 por cento de outras folhosas (fruteiras silvestres, plantas arcaicas, mediterrânicas e fagáceas)
16 por cento de resinosas ornamentais
60 por cento com necessidade de intervenção (desde uma simples rega ou poda a um abate)
15 por cento de árvores com interesse especial
30 por cento tem menos de 30 anos
40 por cento entre os 20 e os 50 anos
30 por cento com idades superiores a 50 anos

A árvore no Porto tem uma média de...
20 anos
7,2 metros de altura
17,5 centímetros de diâmetro (tronco)
4, 3 metros de diâmetro médio da copa

Andrea Cunha Freitas»
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(Só uma justa nota relativamente à classificação das árvores: as que foram classificadas este ano na cidade não foram exclusivamente por proposta da Campo Aberto; algumas foram propostas pela NDMALO (Nucleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Ouro). Ver detalhes em Árvores classificadas do Porto. manueladlramos)
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10/09/2005

O castanheiro da rua do pinheiro


Fotos: pva 0508 - castanheiro monumental na rua do Pinheiro Manso, Porto

Quando desta vez visitei o castanheiro o local apresentava ar de festa, enfeitado com tiras de cores garridas. Mesas e cadeiras de plástico - restos de alguma esplanada - distribuíam-se sem ordem visível. A ausência de guarda-sóis tem três explicações possíveis, não sei qual delas a correcta: 1) o dono da tal esplanada trocou de mobília mas não substituiu os guarda-sóis; 2) as árvores do local fornecem sombra que baste; 3) a(s) festa(s) realiza(m)-se à noite.

Prefiro a terceira explicação: a da festa nocturna, à semelhança dos velhos arraiais de província. Pois o castanheiro, com a capela dedicada a Santo António a fazer-lhe companhia, quase não pertence à cidade nem a esta época; e, quando a noite desce sobre ele, sairão da sombra como de uma fábula seres e cenas improváveis.

Como não assisti a essas festas - pois nos contos de fadas, ao inverso do que postula a mecânica quântica, as coisas interessantes só acontecem quando não estamos presentes -, apenas posso dar do castanheiro o prosaico retrato diurno. Primeiro a localização: à rua do Pinheiro Manso, no delapidado jardim de uma mansão convertida em sede partidária. A entrada faz-se por um portão, ao lado da esquadra da PSP, que abre para um terreiro usado como estacionamento; ao fundo uma rede de ferro delimita um talhão com couves e árvores de fruto; à esquerda um tabique separa parcialmente o terreiro do jardim.

Além do castanheiro - grande, alto, forte, portentoso -, há árvores ornamentais que falam da antiga opulência: um ácer japonês, canforeiras, palmeiras de várias espécies, camélias (incluindo uma reticulata). O castanheiro aproveitou a ausência de vigilância humana para criar prole, e há até uma estranha touceira com três troncos, formada por um castanheiro e duas palmeiras (Phoenix canariensis).

São estas árvores nos antigos jardins, ocultas por muros ou fachadas tantas vezes decrépitos, que ajudam a cidade a respirar. Como poucos as vêem, também poucos dão pela sua falta quando as obras de reconstrução lhes ditam a morte. Mas são cento e tantos anos de vida que se perdem - anos que nunca em nossa vida serão recuperados.

Outro castanheiro monumental a sul

09/09/2005

Árvore das orquídeas


Fotos: pva 02 - Bauhinia variegata nos jardins do Palácio de Cristal (árvore já desaparecida)

As Bauhinias, arbustos que podem atingir os 10 metros de altura, são da família das leguminosas (Fabaceae), produzindo vagens acastanhadas que abrem violentamente quando maduras para espalhar as sementes. O nome homenageia os irmãos Caspar e Jean Johannes Bauhin, botânicos suíços do século XVI. As folhas têm formato inconfundível: redondas e bilobadas, com um sulco bem vincado, lembram a impressão de uma pegada de animal com casco; algumas abrem e fecham como páginas de um livro, um truque para controlar a evaporação. Formam copa larga e caiem quase todas antes da floração, que dura vários meses em exemplares saudáveis. As flores, que se agrupam nos extremos dos ramos, são de tom branco, rosa, carmim, vermelho ou violeta; assemelham-se a orquídeas, com cinco pétalas irregulares, algumas sobrepostas, estames proeminentes e um leve perfume.

De cerca de 350 espécies, as mais usadas como ornamentais têm origem na China, África ou América do Sul. Uma das mais famosas pela sua floração vermelha, conhecida desde 1880, é um híbrido natural estéril de B. variegata e B. purpurea que se identificou em Hong Kong, de nome científico B. x blakeana. Desde 1965 que é emblema da região e, depois dela passar para a soberania chinesa, a flor desta espécie de Bauhinia figura na sua bandeira sobre um fundo vermelho. Nas moedas de Hong Kong, que enquanto colónia inglesa continham numa das faces a efígie da rainha Isabel II, reina agora a flor desta Bauhinia.

Existia um exemplar de Bauhinia variegata de belo porte num dos terraços do Palácio de Cristal. Esta árvore adoeceu e foi retirada há uns anos; ainda não foi substituída por outra do mesmo género: no seu torrão cresce agora apenas uma relva espessa. Em contrapartida, o Jardim Botânico do Porto tem plantado com sucesso vários destes arbustos e vê-se recompensado com algumas flores excepcionais.


Bauhinia forficata no Jardim Botânico do Porto

08/09/2005

Cancioneiro popular - pinhões

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«Se me queres ouvir cantar
Madrugada e serões,
Vai ao lugar dos Barreiros
À britada dos pinhões.»
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Pinheiros mansos em Serralves

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Pinheiros mansos (Pinus pinea) centenários em Serralves fotografados ontem

Que eu tenha conhecimento, este epíteto de manso apenas aparece na nossa língua. São mansos estes pinheiros por oposição ao chamados pinheiros bravos ou marítimos (Pinus pinaster). .

Em francês o P. pinea é conhecido por "pin parasol","pin pinier" e "pin pignon"; em língua inglesa por "umbrella pine"ou "stone pine"; e em italiano e espanhol por "pino da pinoli" e "pino pinonero" respectivamente, devido à forma da sua copa por um lado e às suas sementes duras, os pinhões, com uma amêndoa branca comestível. Às sementes dos pinheiros bravos, não comestíveis, chamam-se peniscos.

(Ver outra fografia destes pinheiros mansos ao pé do prado em Serralves.)
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07/09/2005

"Conhecer o Arboreto do Jardim de Serralves"

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Visita integrada no programa Ciência Viva no Verão - Biologia
(promovida pelo Departamento de Biologia - Universidade de Aveiro)

Apesar de ser necessária inscrição prévia, ainda há disponíveis sete bilhetes para a visita (estive lá de manhã e perguntei). Aparecer junto à entrada do Museu às 14.30 (e perguntar no balcão pelo grupo...;-)

«Responsável pela acção: Rosa Pinho
URL:
http://www.biorede.pt/
Descrição: Durante cerca de 1 ano, a Universidade de Aveiro (LabSIG/Unave e Dep. de Biologia), produziram um sistema de informação geográfica das árvores e arbustos do Jardim de Serralves (LabSig). Foram identificados cerca de 4000 exemplares da Flora existente (Dep. Biologia). Este projecto conjunto representa uma valiosa ferramenta de trabalho para a Fundação de Serralves. Visitar Serralves de tempos a tempos e dar a conhecer um pouco do muito que aprendemos tornou-se imperioso, sendo este o 4º ano consecutivo em que o Departamento de Biologia, leva visitantes ao Parque. Este ano teremos em Serralves uma exposição das fotografias tiradas no âmbito desse projecto (Exp. Fotográfica de Junho-Outubro)Esta visita, no período da manhã, terá uma componente histórica, onde seremos acompanhados por alguém da Fundação de Serralves. A seguir ao almoço, os biólogos presentes darão a conhecer a componente botânica do Parque, os aspectos etnobotânicos e outras curiosidades que as plantas frequentemente despertam.»
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Pinheiros mansos no alto da Avenida



Praça General Humberto Delgado (ver fotografia aérea do conjunto Pr. Humberto Delgado/Av. dos Aliados/ Pr. da Liberdade)
Para muitas pessoas o nome desta bela Praça onde se encontra a estátua de Almeida Garrett é desconhecido e completamente ignorada a sua autoria: do decano da arquitectura portuguesa, Fernando Távora recentemente falecido (e cuja obra mais polémica é hoje, pelos piores motivos, notícia do Jornal).
Se em algum lado existe uma placa semelhante à que se pode encontrar na Av. dos Aliados , com o símbolo de "World Heritage/Património Mundial/Patrimoine Mondial" e um resumo da história do local e da razão de ser da toponímia, passou-me completamente despercebida.
Há pouco mais de um ano foi chumbada a construção de um parque de estacionamento e outras "comodidades" subterrâneas, salvando-se muito provavelmente assim os belos pinheiros (Pinus pinea) que tão mansamente enquadram a Praça. Segundo notícia então publicada no site oficial da câmara, todas essas construções não iriam prejudicar a traça original da Praça General Humberto Delgado.

(É lamentável e incompreensível que essa preocupação com a traça original não tenha de todo apoquentado os responsáveis pelo crime de lesa património que se está a perpetrar nos Aliados, com o aval favorável de quem supostamente está em funções com o objectivo de o preservar e valorizar (o património).

* da autoria do escultor Barata Feyo e inaugurada em 1954
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06/09/2005

Árvores de Agramonte


Foto: pva 0509 - cemitério de Agramonte, Porto

Tal como o Prado do Repouso, também o cemitério de Agramonte tem uma grande colecção de japoneiras de porte arbóreo. Enquanto as do Prado do Repouso ganham em tamanho, as de Agramonte impõem-se pelo número. Em qualquer caso, fica prometido o regresso na época própria a ambos os locais para acompanharmos a floração das camélias.

Na foto avista-se uma das alamedas do cemitério paralelas à rua principal; além dos buxos quase rasteiros e das camélias, a alameda é sombreada em toda a sua extensão por grandes liquidâmbares (Liquidambar styraciflua). Esta espécie norte-americana ganhou nos últimos anos popularidade na arborização urbana: é de muito bom porte e crescimento vigoroso, resiste à poluição e aos maus tratos, e a cor da sua folhagem outonal é muito atraente. Na rotunda da Boavista, são liquidâmbares que formam o anel exterior do jardim; ao contrário de outras árvores, não parecem ter sofrido com as obras de reabilitação aí realizadas em 2004.

P.S. Com isto respondemos à leitora que nos pediu para identificarmos algumas árvores em Agramonte. Foi um gosto ajudá-la.

05/09/2005

"As minhas queridas árvores de Ayres de Gouveia !!!"

«Caríssima amiga
Parece que só contacto contigo quando algum pequeno drama acontece no meu também pequeno universo quotidiano... talvez seja isso mesmo, ou nem tanto.
Estou tão escandalizada, ofendida talvez seja o termo mais preciso, com o derrube dos últimos áceres da Rua Ayres de Gouveia que não posso evitar de partilhar esta tristeza.
É de facto uma cidade de gatilho fácil, cujos destinos vão sendo conduzidos por um hábil pistoleiro sob o lema "atirar a matar".
Há anos que me delicío a apanhar de manhã uma meia dúzia de folhas do chão e daquelas pequenas hélices com sementes (samarídeas??? desculpa a ignorância, não sei o nome) que levo para a secretária e me fazem companhia durante o dia como marcadores na agenda.

Aquelas árvores jovens e escorreitas que faziam um belo introito ao jacarandá do Viriato foram... assassinadas, uma delas à minha frente, hoje de manhã, com uma escavadora e uma serra eléctrica, e esta pacata cidadã nada pode fazer se não dar um par de berros ao desgraçado que segurava a serra eléctrica e que olhou para ela com ar de quem pergunta "mas afinal estou à porta do Santo António ou do Conde Ferreira ?".
É pena que o espaço urbano continue a ser tratado por habilidosos que fazem nele a bricolage que provavelmente só por inércia não fazem em casa, do género "derrubar a parede (que por acaso era mestra) para aumentar a casa de banho, de maneira a que caiba a máquina de remar e a bicicleta, que assim fazemos aqui o nosso pequeno ginásio".

Os pequenos mundos, as pequenas ideias, as soluções comezinhas sempre acompanhadas da devastação brutal, única "grandeza" com que, em vão, se tenta ocultar a mediocridade. Rezo para que não lhes ocorra, para "grand final", descer ao largo do Viriato; quem sabe a tal engenheira diagnostica ao jacarandá alguma maleita terrível e contagiosa ... e a Câmara lhe trata da saúde de vez.
Desculpa o desabafo, mas estou mesmo irritada. (...) 30.08.05»


(não consigo ler estas palavras sem sentir vontade de, com esta amiga, berrar também a minha revolta. mas ainda não perceberam?! não se abatem árvores sem avisar, sem explicar; há pessoas que gostam genuinamente delas, que as sentem companheiras e amigas, essenciais!
qual a razão para o abate destes áceres? alguém foi já chamado à responsabilidade? haja respeito e educação!)

A fotografia que ilustra este post (clicar para aumentar) e a única que possuo da referida artéria e das suas árvores, foi tirada em Dezembro de 2003 do alto do Palácio da Justiça.
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Mais árvores, menos sombras

In Público, Local Porto
5 de Setembro de 2005

Já reparou que existem laranjeiras na Rua Gonçalo Cristóvão? Já admirou a altura da fabulosa Ginkgo das Virtudes? Alguma vez contemplou as cores do jacarandá do Largo do Viriato? E quantas vezes saboreou a sombra de uma qualquer árvore no Porto? É improvável que o precioso arvoredo da cidade passe despercebido. No entanto, nos últimos anos, as obras de requalificação urbana, quer do Porto 2001 quer da Metro do Porto, têm derrubado alguns troncos na cidade que, na maioria dos casos, têm sido substituídos por exemplares mais jovens.

A média de idade das árvores no Porto ronda agora os 20 anos. Rui Sá, vereador do Ambiente, garante que nos últimos quatro anos foram plantadas bastantes mais árvores do que as desaparecidas, por doença ou devido a obras. Os números fornecidos pelos responsáveis da Divisão de Jardins confirmam a garantia do autarca: 678 árvores foram abatidas, 371 transplantadas e 7533 novos exemplares plantados, entre 2001 e 2005. O problema para alguns é precisamente esse. É que não só os exemplares são novos porque são recém-chegados às ruas do Porto mas também jovens e, por isso, pequenos. Há mais árvores no Porto mas também há menos sombras.

Nuno Quental, da associação de defesa do ambiente Campo Aberto, lamenta precisamente a perda da cidade com o desaparecimento de árvores de grande porte. Reconhecendo que nalguns locais foram plantados novos exemplares, Quental alerta para o facto de hoje se realizaram muitas obras na via pública que "sistematicamente sacrificam as árvores que existem no caminho". Paulo Araújo, um matemático assumidamente apaixonado por árvores e co-autor do livro recém-editado pela Campo Aberto À sombra de árvores com história, acrescenta que actualmente se corre o risco da "banalização" da perda de árvores em benefício de uma empreitada. "As árvores são arrancadas ou abatidas ao menor pretexto, sem hesitação. Isso está-se a tornar algo banal. Aqui há uns anos não se imaginava que uma rua arborizada fosse despida" , afirma.

Um dos casos exemplares, no pior sentido, para Paulo Araújo está à vista na Avenida da Boavista > , onde algumas tílias de quase 20 anos foram substituídas por jovens plátanos: "A espécie não é a mais indicada para o local à beira-mar e as caldeiras são minúsculas, com metade do tamanho que deviam ter para garantir um crescimento normal daquelas árvores e das suas raízes".

Araújo revela que chegou a ponderar a hipótese de fazer uma lista das árvores perdidas com as obras de requalificação urbana; no entanto, diz ter desistido da ideia quando imaginou a deprimente "notícia necrológica". Com as moradas exactas de muitas árvores da cidade na ponta da língua - algumas são verdadeiras "heroínas" no livro que ajudou a fazer -, Paulo Araújo admite, porém, que, apesar de algumas importantes perdas, "tem-se verificado o cuidado de substituir as árvores".

"As árvores não são insufláveis. Tem de ser dado tempo para que elas cresçam. Elas são um ser vivo com um ritmo próprio. Repare-se na Praça da Batalha, estão ali árvores que dentro de 10 ou 20 anos vão ficar lindíssimas", avisa Isabel Lufinha, engenheira florestal que coordena a equipa de intervenção da autarquia e que participou na elaboração do inventário das árvores do Porto. Insistindo na necessidade de uma gestão deste património vivo, a engenheira realça os benefícios ambientais de uma árvore mas também o papel psicológico pela sensação de "serenidade" que nos garante. "Ninguém vai para a VCI relaxar", nota. Quanto ao futuro, Isabel Lufinha garante que a floresta urbana do Porto vai crescer mas que deve ser feito um planeamento cuidadoso. "Temos de começar a repensar, por exemplo, o uso de árvores com grande necessidade de água", aponta, salientando também "a óptima tendência nas novas plantações para a escolha de espécies autóctones".

Por outro lado, consciente do efeito que as intervenções de requalificação urbana têm no espaço público e, sobretudo, nas zonas verdes, Rui Sá não nega o prejuízo para a cidade. Assim, o autarca nota que a "mineralização da Porto 2001" varreu algumas árvores e o Metro do Porto também tem deitado alguns troncos abaixo. Porém, o vereador do Ambiente considera que a Metro do Porto tem demonstrado recentemente uma postura diferente. Ainda assim, não foi possível evitar os estragos nas raízes de alguns sobreiros, junto ao Bairro da Fábrica, assumidos pela Normetro na passada semana e que poderão levar a empresa a pagar uma coima. No caso da Boavista, Rui Sá realça que a avenida tem agora mais árvores do que nunca e que as tílias que ali estavam encontram-se no viveiro da autarquia e serão transplantadas para vários locais da cidade.

"Por vezes, a presença de uma árvore só é notada quando causa problemas. As pessoas devem olhar para uma árvore como um ser vivo, com virtudes e defeitos, ter paciência para retirar os benefícios e aturar os incómodos", conclui Isabel Lufinha.

Armindo Santos, reformado que reclama a profissão de avô, está sentado à sombra de uma árvore na Cordoaria. Não sabe, nem lhe interessa, qual é o nome que "os especialistas" lhe dão. Sabe que gosta da sombra e, ali no fresquinho, tem uma certeza: quanto mais árvores, melhor.

Por Andrea Cunha Freitas

04/09/2005

Araucanas

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A propósito das Araucarias araucanas do Parque da Lavandeira em Gaia e de Chiswick House em Londres, e devido também à semelhançada das silhuetas...
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Fotos: Porto, na rua de S. Roque da Lameira; Vila Real, no Jardim da Carreira.

03/09/2005

Porque sim e para que se saiba!

Foto de Nuno Calvet reproduzida do livro As mais belas cidades de Portugal (Colecção Património)- Edimpresa Editora, Lda

«O que diz o Estudo de Impacte Ambiental
Selecção de considerações e recomendações do EIA sobre a linha S do Metro do Porto no troço Av. dos Aliados / Praça da Liberdade
(Nota: algumas recomendações são de carácter geral)

O EIA preconiza que se constitua um Programa de Salvaguarda do Património Cultural Construído e um Programa de Acompanhamento Ambiental da obra, que faça a inventariação, prospecção, sondagem e recuperação dos elementos de interesse patrimonial.
Flora e paisagem:
1. (...) deverão ser tomadas as medidas necessárias para que o coberto vegetal não seja destruído desnecessariamente.
2. Deve-se prever a recuperação de todas as áreas que venham a ser afectadas por qualquer processo.
3. Devem-se recuperar imediatamente após a finalização das obras todos os jardins públicos e arruamentos afectados pelas obras.
4. As áreas de estaleiros, frentes de obra, etc. deverão ser recuperadas e integradas paisagisticamente após a conclusão da obra.
5. Devem recuperar-se imediatamente após a finalização das obras os jardins públicos e arruamentos, destacando-se pela sua localização no centro do Porto e pela natureza das obras aí previstas, a avenida e jardim dos Aliados.

Elementos de interesse arquitectónico identificados na área do estudo:
1. Na zona central do Porto podem identificar-se diversos monumentos (...).
Aqui existe ainda uma das mais importantes praças da cidade, os Aliados.
"Sala de visitas" do Porto, aqui o impacto será elevado e muito significativo.
3. Recomendação:(...) esta secção corresponde ao jardim dos Aliados, prevendo-se uma grande afectação do mesmo, consequência da obra da linha do metro e da instalação da estação dos Aliados; este impacte será contudo temporário, podendo ser facilmente adoptadas medidas mitigadoras durante a obra, bem como a reposição do jardim imediatamente após a sua conclusão.
Medidas de integração estéticas e paisagísticas específicas:
Aliados:
1. Levantamento topográfico da vegetação.
2. Selecção criteriosa das espécies vegetais existentes no jardim dos Aliados que possam ser transplantadas e o seu devido acondicionamento para posterior recolocação.
3. Recuperação do jardim após a conclusão do empreendimento repondo-se, tanto quanto possível, a situação inicial. » (Publicado originalmente por Nuno Quental no Blogue da Campo Aberto em 8.7.05
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